A dor que vai além do corpo
No dia a dia de seu trabalho, você lida com as dores do corpo, utilizando tratamentos, técnicas e protocolos que combatem doenças, restauram a mobilidade e aliviam o desconforto físico. Mas, talvez sem perceber, você também se depara com outro tipo de dor — uma dor que não aparece nos exames de imagem ou nos relatórios médicos, mas que transparece no olhar, na hesitação das palavras e no suspiro profundo de quem está à sua frente.
Quantas vezes você já ouviu um paciente falar de suas angústias enquanto esperava por uma consulta? Quantas vezes percebeu que a tensão muscular trazia consigo um peso emocional acumulado por anos de silêncio e solidão? Quantas vezes sentiu que bastava um pouco de acolhimento, um momento de escuta genuína, para que a pessoa diante de você saísse dali mais leve, mesmo sem que a intervenção física tivesse sequer começado?
O entrelaçamento entre corpo e mente
Essas situações mostram algo importante: a saúde do corpo e a saúde da mente não estão dissociadas. Elas se entrelaçam e se influenciam mutuamente. E é nesse entrelaçamento que você, enquanto profissional da saúde, mesmo sem se considerar um profissional da saúde mental, pode desempenhar um papel profundamente transformador.
O poder da escuta e da humanidade
Acolher não exige diploma em psicologia, mas sim humanidade. Escutar, sem pressa e sem julgamento, é uma forma de cuidar que vai além das técnicas e dos protocolos. Não se trata de substituir o trabalho dos psicólogos ou psiquiatras, mas de reconhecer que, muitas vezes, você é a primeira pessoa que o paciente encontra em quem confia para abrir o coração. Você se torna um ponto de partida, um refúgio inicial em uma jornada que, para muitos, é marcada pelo medo de não ser compreendido ou pela vergonha de falar sobre sentimentos.
O desafio de desconstruir preconceitos
A vergonha e o medo que muitas pessoas sentem ao expressar suas emoções são frutos de uma sociedade que, por muito tempo, tratou as emoções como fraquezas e os desabafos como fardos. Cabe a todos nós, cada um em sua área de atuação, ajudar a desconstruir essa cultura. Um gesto de escuta ativa, um olhar atento ou até mesmo uma simples frase como “Eu entendo que isso é difícil para você” pode ser o alívio que alguém precisa para dar o próximo passo em busca de ajuda.
A grandeza do pequeno gesto
Por vezes, talvez você se pergunte se o que está fazendo é suficiente. Afinal, você não é terapeuta ou especialista em saúde mental. Mas lembre-se: muitas vezes, o mais importante não é o que você diz, mas a maneira como você faz alguém se sentir. Ao criar um espaço seguro, ao oferecer um abraço simbólico por meio da sua atenção, você dá um presente inestimável: a validação. Você diz, mesmo sem palavras: “Você importa. Suas emoções são legítimas. Você merece ser ouvido.”
O papel transformador de um profissional humano
Ao agir assim, você não apenas promove o bem-estar do outro, mas também contribui para uma visão mais ampla e integrada da saúde. Você se torna um agente de transformação em um sistema que, cada vez mais, reconhece a importância de cuidar da pessoa como um todo — corpo, mente e alma.
A força de conectar o físico ao emocional
Portanto, não subestime a grandeza do que você faz. Mesmo que não carregue o título de um “profissional da saúde mental”, seu trabalho tem o potencial de transformar vidas de maneiras que você talvez nunca veja, mas que são sentidas profundamente por quem recebe seu cuidado.
Seja o elo que conecta o físico ao emocional. Seja a presença que acolhe, a escuta que conforta e o início de um caminho de renovação. O mundo precisa de profissionais como você — não apenas técnicos e capacitados, mas também humanos, sensíveis e atentos àquilo que não se vê, mas se sente.
Mesmo que a sua contribuição pareça pequena, para muitos ela pode ser a diferença entre a solidão e a esperança. Lembre-se: ser humano é, também, ser saúde mental para o outro.
Com profunda gratidão e admiração,
Leonardo Abrahão.