É cada vez mais comum, nos consultórios de psicologia, ouvir desabafos como este: “Sinto falta de sentido na minha vida.” Essas palavras ecoam um vazio existencial que, muitas vezes, se manifesta em várias áreas da vida: relacionamentos conjugais, experiências de maternidade ou paternidade, desafios no trabalho, dilemas na vida sexual ou os questionamentos que emergem com a chegada da velhice. O que antes poderia ser interpretado como uma crise pontual, hoje revela um fenômeno social em expansão. Sentir falta de sentido na vida não é apenas uma experiência individual – é um reflexo de um tempo.
A desconexão em uma sociedade produtivista
Esse sentimento tem crescido em nossa sociedade, e as razões para isso são claras. Vivemos em um mundo regido pela lógica do produtivismo, do materialismo, do consumismo e do hedonismo. Essas forças não apenas moldam nossos comportamentos, mas também influenciam profundamente nossa relação conosco mesmos. Em um ritmo de vida cada vez mais acelerado, as pessoas encontram dificuldade em se conectar com sua própria essência, compreender seus gostos, traçar seus planos e construir objetivos que sejam realmente significativos. Essa desconexão interna é o primeiro passo para a sensação de falta de sentido.
A padronização das vidas humanas e suas consequências
A situação é agravada pela forma como somos conduzidos a viver. Em vez de cultivarmos relações e escolhas que reflitam nossa singularidade, somos empurrados para estilos de vida padronizados, pautados por interesses alheios. Padrões de beleza, consumo, lazer e visões de mundo são massificados por uma indústria cultural que tem como principal objetivo o lucro, e não a felicidade humana. Esse processo de homogeneização mina a capacidade de cada indivíduo de viver uma vida autêntica, resultando em uma profunda desconexão consigo mesmo e com o mundo ao seu redor.
O teatro coletivo da modernidade
Nesse contexto, muitas pessoas passam a viver tramas e dramas que não escolheram genuinamente. O que parece ser liberdade de escolha – um emprego, um relacionamento, um estilo de vida – muitas vezes não passa de uma reprodução de padrões impostos por sistemas políticos e mercadológicos. Esses sistemas criam narrativas que capturam nossa subjetividade, induzindo-nos a acreditar que estamos no controle de nossas vidas, quando, na verdade, estamos interpretando papéis cuidadosamente escritos por interesses externos.
O disfarce do mal-estar existencial
Esse teatro coletivo, no entanto, não é sustentável. Em algum momento, as pessoas percebem que estão desconectadas de si mesmas. Sentem-se estranhas em relação aos papéis que desempenham, sem afinidade ou sinceridade com as escolhas que supostamente fizeram. Para agravar ainda mais essa situação, os próprios interesses políticos e mercadológicos criam fantasias e justificativas para mascarar esse mal-estar existencial. Alegam que o problema está no indivíduo, sugerindo soluções que vão desde o consumo de novos produtos até tratamentos que reforçam a ideia de que a insatisfação é algo exclusivamente pessoal e desvinculado de questões estruturais.
Promovendo uma cultura de saúde mental e autenticidade
A verdade, contudo, é que esse vazio existencial é um sintoma de uma sociedade adoecida. E, para combatê-lo, precisamos resgatar a importância de movimentos que promovam uma cultura de saúde mental, autoconhecimento e psicoeducação. O sentido da vida não está em prateleiras de shoppings ou nas vitrines da indústria cultural. Ele é uma construção pessoal, autêntica e profundamente conectada com a singularidade de cada indivíduo.
O caminho para uma vida autêntica
Neste início de século XXI, é urgente despertar para essa verdade. Apenas por meio da autodescoberta e do fortalecimento de nossas relações internas seremos capazes de criar vidas verdadeiramente significativas. Isso exige coragem para questionar os padrões impostos, discernimento para identificar o que é realmente nosso e disposição para trilhar um caminho autêntico, mesmo que ele não seja o mais fácil.
Em nome de uma vida conectada consigo mesma, autêntica e livre, que possamos refletir profundamente sobre os sentidos que damos à nossa existência. Afinal, viver com verdade é o primeiro passo para encontrar um sentido que realmente nos complete. E essa é uma jornada fundamental para a nossa Saúde Mental.