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Ansiedade: a palavra do ano no Brasil e o reflexo de um mundo em transformação

A palavra “ansiedade” foi eleita a palavra do ano no Brasil, segundo a nona edição da pesquisa conduzida pela CAUSE, em parceria com o Instituto de Pesquisa IDEIA e PiniOn. O levantamento, que consultou 1.538 brasileiros de todas as regiões do país com base no Censo 2022, revelou que o termo foi mencionado por 22% dos entrevistados, superando outras palavras de grande relevância como “resiliência” (21%), “inteligência artificial” (20%), “incerteza” (20%) e “extremismo” (4%).

O processo de escolha seguiu duas etapas criteriosas. Primeiro, um grupo de especialistas das áreas de comunicação e ciências sociais definiu cinco palavras que sintetizam as dinâmicas e preocupações de 2024. Em seguida, esses termos foram submetidos a uma pesquisa quantitativa representativa da população brasileira, refletindo uma análise abrangente das percepções nacionais.

O resultado não surpreende. Vivemos em um mundo marcado por mudanças aceleradas e transformações profundas, tanto no nível individual quanto no coletivo. Segundo Leonardo Abrahão, psicólogo e criador da Campanha Janeiro Branco — a maior iniciativa brasileira voltada à promoção da saúde mental —, a escolha de “ansiedade” como a palavra do ano é um sinal claro dos tempos atuais. São tempos de desafios, mas também de oportunidades para refletirmos sobre como estamos vivendo.

Essas transformações têm origem em múltiplos fatores que impactam diretamente a saúde mental da população. Entre eles, Leonardo Abrahão destaca o crescimento desordenado da população, a competitividade exacerbada em praticamente todas as áreas de trabalho humano e a onipresença das tecnologias em nossas vidas. A dependência tecnológica e o uso inadequado das redes sociais têm intensificado a sensação de urgência, comparação e imediatismo, gerando um terreno fértil para a ansiedade crescer. 

Outro ponto de destaque é a eclosão das emergências climáticas e a precariedade das políticas públicas relacionadas à dignidade, segurança e qualidade de vida. Somam-se a isso a precarização das condições de trabalho, tanto no Brasil quanto no mundo, e os estilos de vida hedonistas, consumistas e narcisistas que marcam nossa época. Todos esses elementos têm criado um cenário de *incertezas constantes, no qual a ansiedade se torna uma resposta comum e cada vez mais presente no cotidiano das pessoas.

Diante desse quadro, é necessário olhar para a ansiedade não apenas como um sintoma isolado, mas como um reflexo das estruturas e demandas de nossa sociedade. Leonardo Abrahão ressalta a importância de uma ação conjunta, orientando pessoas e instituições a tomarem medidas que priorizem o cuidado com a saúde mental.

Leonardo Abrahão sugere três caminhos principais:

1. Investir em processos de autocuidado individual

Reconhecer os próprios limites, adotar práticas saudáveis e buscar o equilíbrio entre o trabalho, o lazer e as relações afetivas são atitudes essenciais para combater a ansiedade. Práticas como a meditação, exercícios físicos e a desconexão intencional das redes sociais podem ser caminhos eficazes.

2. Atitudes institucionais voltadas para o bem-estar coletivo:

Empresas, escolas e organizações devem criar ambientes que promovam o diálogo, a empatia e o suporte psicológico. A saúde mental precisa ser uma pauta constante em políticas internas e programas de acolhimento.

3. Multiplicação de políticas públicas voltadas à justiça e ao bem-estar social:

Governos e entidades públicas têm um papel crucial na criação de condições dignas de vida para a população. A implementação de políticas que combatam a precarização do trabalho, a desigualdade social e a falta de acesso à saúde mental é urgente e necessária.

A escolha de “ansiedade” como palavra do ano é, sem dúvida, um alerta. Ela aponta para a necessidade de enfrentarmos, com coragem e responsabilidade, os desafios de uma sociedade que precisa aprender a respirar, refletir e cuidar melhor de si mesma. Mais do que um diagnóstico, é também um convite: que possamos, coletivamente, construir um mundo mais equilibrado, empático e justo, onde o bem-estar individual e coletivo seja prioridade.

Como destaca Leonardo Abrahão, “a ansiedade é um sinal de que algo precisa ser transformado. Que possamos olhar para ela com acolhimento, compreensão e ações práticas, para que nossas vidas sejam mais saudáveis e significativas.”

Leia também: BRAIN ROT: A “podridão mental” e a Saúde Mental

Leonardo Abrahão
Leonardo Abrahão
Psicólogo, professor, palestrante e escritor. Em 2014, ao convidar psicólogos e psicólogas de sua cidade natal, Uberlândia(MG), para irem às ruas falar com as pessoas sobre Saúde Mental, deu início ao maior movimento do mundo sobre qualidade de vida e bem-estar emocional — a Campanha Janeiro Branco. Hoje, como presidente do Instituto Janeiro Branco, dedica sua vida ao fortalecimento dessa causa — trabalhando, sempre, por uma cultura da Saúde Mental na humanidade, de janeiro a janeiro e ano após ano.
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