Em dezembro de 2024, o termo “brain rot” (“cérebro podre” ou “podridão cerebral”, em inglês) foi escolhido como a expressão do ano pelo Dicionário Oxford, evidenciando uma preocupação global com os impactos do consumo excessivo de conteúdos superficiais e pouco desafiadores, especialmente nas redes sociais. Com mais de 130 mil buscas ao longo de 2024, “brain rot” reflete uma questão urgente sobre a qualidade da informação e os efeitos cognitivos causados por ela.
O que é o “Brain Rot”?
A expressão descreve a deterioração mental ou intelectual resultante do consumo constante de conteúdos fáceis e de baixa qualidade, frequentemente encontrados online. Esse fenômeno não é uma novidade. Foi mencionado pela primeira vez em 1854 por Henry David Thoreau, no livro “Walden”. Thoreau usou o termo para criticar a desvalorização de ideias complexas, comparando o “brain rot” ao apodrecimento das batatas na Inglaterra. Mais de um século e meio depois, a expressão ressurge em um contexto digital, refletindo a crise intelectual alimentada pela abundância de conteúdos fúteis nas redes sociais.
Um problema global
Não seria necessário um dado como esse para perceber a gravidade do problema. Milhões de pessoas, diariamente, são expostas a conteúdos de procedência duvidosa e baixa qualidade moral, intelectual e política. Esses conteúdos, amplamente disseminados nas redes sociais, são consumidos de forma acrítica, contribuindo para um ambiente mental fragmentado e superficial.
Pior ainda, grande parte desse material é patrocinada por interesses econômicos e políticos alheios à formação de cidadãos conscientes e críticos. Esses interesses promovem a alienação coletiva, mantendo as pessoas em um estado de apatia intelectual que facilita o controle e a manipulação.
Impactos nos Nativos Digitais
Não surpreende que pesquisas apontem que os chamados “nativos digitais”, as primeiras gerações a crescerem imersas no mundo virtual, estejam apresentando QIs inferiores aos de seus pais. Esse dado alarmante revela como o excesso de conteúdo superficial está prejudicando a capacidade cognitiva e o desenvolvimento intelectual das novas gerações. A exposição prolongada a informações sem profundidade e sem desafio intelectual pode estar criando um ciclo de empobrecimento mental, cujas consequências serão sentidas por décadas.
O que pode ser feito?
Diante desse cenário preocupante, a pergunta que toda pessoa séria e bem-intencionada deveria se fazer é: “o que pode ser feito?” Embora a resposta não seja simples, algumas ações individuais e coletivas podem ajudar a combater os efeitos do “brain rot”:
- Consumo Crítico de Informação: Questione a qualidade e a fonte do conteúdo antes de consumi-lo. Prefira materiais que promovam reflexão e aprendizado.
- Estímulo à Leitura de Qualidade: Invista tempo em livros, artigos e materiais que desafiem sua capacidade intelectual e ampliem seu conhecimento.
- Práticas de Higiene Digital: Estabeleça limites claros para o uso de redes sociais e evite o consumo excessivo de conteúdo superficial.
- Educação Digital: Promova o aprendizado sobre como navegar de forma consciente na internet, especialmente entre os jovens.
- Valorização de Ideias Complexas: Incentive o debate sobre temas relevantes e complexos, valorizando a troca de ideias e o crescimento intelectual.
- Combate à Desinformação: Denuncie e combata conteúdos falsos ou enganosos que circulam online.
- Fomento à Cultura Crítica: Apoie iniciativas que incentivem o pensamento crítico, como workshops, palestras e grupos de estudo.
Um Chamado à Reflexão
O reconhecimento do termo “brain rot” como expressão do ano não é apenas um registro linguístico; é um chamado à reflexão sobre a sociedade que estamos construindo. Mais do que nunca, precisamos reconsiderar nossas práticas digitais e adotar uma postura mais crítica e consciente em relação ao consumo de informação. Afinal, a qualidade do que consumimos é determinante para a formação de nossas ideias, valores e decisões. E tudo isso é muito importante, e impactante, em relação à saúde mental das pessoas e das instituições sociais.